No
Brasil, mesmo em crise, ninguém analisa o fenômeno que está na base de todos os
males: o poder. A palavra é muito usada mas o que ela significa não é
discutido. A questão dos ministros Calero e Geddel se resume a isso. Ambos têm
poder mas Geddel tem poder de influenciar, e Calero apenas o poder de fazer. Faça,
diz Geddel. Não faço e renuncio diz Calero. Mas que poderes são esses? De onde
vêm? Um raciocínio simples leva à origem: o voto democrático. O eleitor tem o
poder de eleger. E só. Esse poder é doado ao político eleito. Após eleito o
político está livre para usar o poder como bem quiser. Não há mecanismo nenhum
para controlar o uso que é feito desse poder, doado pelo eleitor. O agravante
disso é que o eleitor é obrigado a votar, ou seja, o eleitor brasileiro é
obrigado a doar poder para pessoas sobre as quais a partir do voto não tem
qualquer poder, porque o doou integralmente. E o político nem sequer entende
que tem uma dívida para com seu doador, e deve a ele pelo menos o uso desse
poder com ética. Desse poder adquirido gratuitamente o político está a um passo
da corrupção. E ela acontece. E, apesar da dívida ética, se acusado o político
ainda tem o desplante de exigir provas, quando o correto seria a inversão do
ônus da prova. A Reforma Político-Eleitoral em andamento tem de discutir esse e
outros conceitos. É uma questão de justiça.
Enviado ao Estadão em 21/11/2016
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