segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A CORRUPÇÃO E O PODER

No Brasil, mesmo em crise, ninguém analisa o fenômeno que está na base de todos os males: o poder. A palavra é muito usada mas o que ela significa não é discutido. A questão dos ministros Calero e Geddel se resume a isso. Ambos têm poder mas Geddel tem poder de influenciar, e Calero apenas o poder de fazer. Faça, diz Geddel. Não faço e renuncio diz Calero. Mas que poderes são esses? De onde vêm? Um raciocínio simples leva à origem: o voto democrático. O eleitor tem o poder de eleger. E só. Esse poder é doado ao político eleito. Após eleito o político está livre para usar o poder como bem quiser. Não há mecanismo nenhum para controlar o uso que é feito desse poder, doado pelo eleitor. O agravante disso é que o eleitor é obrigado a votar, ou seja, o eleitor brasileiro é obrigado a doar poder para pessoas sobre as quais a partir do voto não tem qualquer poder, porque o doou integralmente. E o político nem sequer entende que tem uma dívida para com seu doador, e deve a ele pelo menos o uso desse poder com ética. Desse poder adquirido gratuitamente o político está a um passo da corrupção. E ela acontece. E, apesar da dívida ética, se acusado o político ainda tem o desplante de exigir provas, quando o correto seria a inversão do ônus da prova. A Reforma Político-Eleitoral em andamento tem de discutir esse e outros conceitos. É uma questão de justiça.

Gilberto Dib

Enviado ao Estadão em 21/11/2016

Nenhum comentário: