Lula chegou a
presidente, reelegeu-se e elegeu seu poste fundamentalmente pela empatia que
tinha com o povo brasileiro que via nele um semelhante, alguém que falava a sua
língua, entendia seus problemas, e tinha até as mesmas carências, necessidades
e vícios. Some-se a isso um carisma contagiante típico dos grandes líderes
populistas. Se dependesse de convencer o eleitor de que ele tinha a solução
para os problemas econômicos, logísticos, energéticos, diplomáticos nacionais,
nunca seria eleito. Mas o eleitor típico brasileiro não fazia e não faz questão
dessa parte tão complicada. Dilma é o oposto de tudo isso. Mas, com Lula
falando por ela, conseguiu se eleger. Já Marina é muito mais semelhante a Lula
do que Dilma e Aécio juntos. Tem uma forte empatia com o povo, talvez mais até
que o Lula. Ela agrega ainda a fragilidade, a história de vida, a cor da pele e
tudo isso potencializado pela comoção da morte de Eduardo Campos que desperta
compaixão, respeito e uma aura de vítima inimputável qualquer que sejam seus eventuais
erros ou deficiências. O que ela fala o povo não entende nem entenderá mas,
vindo dela, o povo aceita como dogma, como verdadeiro, importante e bom para um
futuro melhor. Está armada a situação que mesmo Lula terá muita dificuldade de resolver
para reeleger Dilma. E Aécio? Aécio é quase um anti-Lula. Jovem, bem formado,
administrador experiente, comunicador objetivo, didático, bem avaliado, bem
assessorado mas do ponto de vista de empatia com o povo é quase zero. Terá de
convencer pelo argumento, pela razão, pelo exemplo, e pelo ataque sutil à
imagem de Marina e de Lula com seu poste. Difícil? Sim, se o argumento for
apenas racional. Um tempero de emoção poderá ajudar. O tempo perdido é um bom
fator para trazer o emocional. Quem está vivo tem a cada dia mais passado e
menos futuro. O tempo é um bem igualitário. Ricos e pobres dispõem do mesmo
tempo. O Brasil está atrasado. Parado. Empacado. Nada anda. Tudo se arrasta,
como o trânsito das cidades onde vive a maioria dos cidadãos. O tempo perdido
em tudo o que se faz no País é simplesmente um absurdo. Isso custa muito. Não
só em dinheiro, mas em vida. Cada dia perdido nas soluções para o País como um
todo são 202 milhões de dias perdidos por toda a população... O Estado
brasileiro é ineficiente. Gasta muito e gasta mal para produzir muito pouco.
Obras mal planejadas, erros e correções, paralisações por burocracia, por
greves, por desinteresse, trânsito caótico, funcionários incompetentes,
licenciamentos que se arrastam... E aí chegamos à Marina. Ou talvez Murina.
Está sempre em cima do muro. Seus princípios são tão rígidos e impossíveis que
chega a querer um pouco de tudo misturado, pela dificuldade de escolha. Quer
que FHC e Lula a assessorem se vencer a eleição. Quer Serra perto dela, mas
esquece que em 2010 ficou em cima do muro sem apoiar Serra. Com certeza sofre
de paralisia pela análise. Nada disso funciona quando se trata de realizar os
projetos. Há que decidir, e tocar para a frente. Com Murina será pior que com
Dilma. Dilma faz devagar. Marina não faz. E não deixa fazer. Fala em uma Nova
Política que define como uma política que não seja nem PT nem PSDB mas que não
sabe definir o que é. Para ela basta ser contra os dois partidos. Melhor seria
chamar essa Nova Política de Não Política, por que baseada no que não é em vez
do que é... Com Murina, o Brasil não vai andar devagar, o Brasil vai parar!
Chega de ideologias paradeiras. O Brasil necessita de um novo pragmatismo
funcional e decisório para sair do marasmo, e não cair no marinasmo. É
necessário um executivo que tenha o sentido de urgência. Dos três candidatos,
só Aécio o tem e pode realizar, recuperando o atraso nacional de 12 anos, em
apenas 4.
Gilberto Dib
Enviado ao Estadão em 01/09/2014
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