segunda-feira, 1 de setembro de 2014

MARINA MURINA

Lula chegou a presidente, reelegeu-se e elegeu seu poste fundamentalmente pela empatia que tinha com o povo brasileiro que via nele um semelhante, alguém que falava a sua língua, entendia seus problemas, e tinha até as mesmas carências, necessidades e vícios. Some-se a isso um carisma contagiante típico dos grandes líderes populistas. Se dependesse de convencer o eleitor de que ele tinha a solução para os problemas econômicos, logísticos, energéticos, diplomáticos nacionais, nunca seria eleito. Mas o eleitor típico brasileiro não fazia e não faz questão dessa parte tão complicada. Dilma é o oposto de tudo isso. Mas, com Lula falando por ela, conseguiu se eleger. Já Marina é muito mais semelhante a Lula do que Dilma e Aécio juntos. Tem uma forte empatia com o povo, talvez mais até que o Lula. Ela agrega ainda a fragilidade, a história de vida, a cor da pele e tudo isso potencializado pela comoção da morte de Eduardo Campos que desperta compaixão, respeito e uma aura de vítima inimputável qualquer que sejam seus eventuais erros ou deficiências. O que ela fala o povo não entende nem entenderá mas, vindo dela, o povo aceita como dogma, como verdadeiro, importante e bom para um futuro melhor. Está armada a situação que mesmo Lula terá muita dificuldade de resolver para reeleger Dilma. E Aécio? Aécio é quase um anti-Lula. Jovem, bem formado, administrador experiente, comunicador objetivo, didático, bem avaliado, bem assessorado mas do ponto de vista de empatia com o povo é quase zero. Terá de convencer pelo argumento, pela razão, pelo exemplo, e pelo ataque sutil à imagem de Marina e de Lula com seu poste. Difícil? Sim, se o argumento for apenas racional. Um tempero de emoção poderá ajudar. O tempo perdido é um bom fator para trazer o emocional. Quem está vivo tem a cada dia mais passado e menos futuro. O tempo é um bem igualitário. Ricos e pobres dispõem do mesmo tempo. O Brasil está atrasado. Parado. Empacado. Nada anda. Tudo se arrasta, como o trânsito das cidades onde vive a maioria dos cidadãos. O tempo perdido em tudo o que se faz no País é simplesmente um absurdo. Isso custa muito. Não só em dinheiro, mas em vida. Cada dia perdido nas soluções para o País como um todo são 202 milhões de dias perdidos por toda a população... O Estado brasileiro é ineficiente. Gasta muito e gasta mal para produzir muito pouco. Obras mal planejadas, erros e correções, paralisações por burocracia, por greves, por desinteresse, trânsito caótico, funcionários incompetentes, licenciamentos que se arrastam... E aí chegamos à Marina. Ou talvez Murina. Está sempre em cima do muro. Seus princípios são tão rígidos e impossíveis que chega a querer um pouco de tudo misturado, pela dificuldade de escolha. Quer que FHC e Lula a assessorem se vencer a eleição. Quer Serra perto dela, mas esquece que em 2010 ficou em cima do muro sem apoiar Serra. Com certeza sofre de paralisia pela análise. Nada disso funciona quando se trata de realizar os projetos. Há que decidir, e tocar para a frente. Com Murina será pior que com Dilma. Dilma faz devagar. Marina não faz. E não deixa fazer. Fala em uma Nova Política que define como uma política que não seja nem PT nem PSDB mas que não sabe definir o que é. Para ela basta ser contra os dois partidos. Melhor seria chamar essa Nova Política de Não Política, por que baseada no que não é em vez do que é... Com Murina, o Brasil não vai andar devagar, o Brasil vai parar! Chega de ideologias paradeiras. O Brasil necessita de um novo pragmatismo funcional e decisório para sair do marasmo, e não cair no marinasmo. É necessário um executivo que tenha o sentido de urgência. Dos três candidatos, só Aécio o tem e pode realizar, recuperando o atraso nacional de 12 anos, em apenas 4.


Gilberto Dib

Enviado ao Estadão em 01/09/2014

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